sexta-feira, 8 de junho de 2018

Como Nasceu o Projeto ALFArte

                                                                      ”Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”   Paulo Freire                                                                                                                      


                                                  
                                                  
Este projeto que envolve a Arte e criatividade na Alfabetização, foi criado pela 1a. Coordenadoria da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, a partir da preocupação com os altos índices de analfabetismo que encontramos no Brasil, assumindo assim a responsabilidade e o compromisso de melhorar esse quadro, conforme indica a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova “A educação é uma responsabilidade compartilhada entre todos nós – governos, escolas, professores, pais e atores privados”. 
Pensamos então em criar estrategias para avançarmos nesse sentido e  nasce um projeto escrito por professores de Artes, Núcleos de Artes e professores de Alfabetização, focado na educação integral dos nossos alunos, articulando as linguagens artísticas que humanizam, sensibilizam, despertam a criatividade e propiciam maior prazer no aprendizado.
A proposta da 1a. CRE é  inovadora e sustentável, porque mantem a estrutura  que existe nas nossas escolas e  sensibiliza na hora de planejar , buscando o desenvolvimento da dinâmica de Projetos Coletivos e Criativos entre todas as disciplinas, proporcionando a aprendizagem cooperativa e a educação integral do aluno.
 Criamos uma mandala com a proposta pedagógica de articular as disciplinas,  onde os professores podem planejar juntos e com foco total  na alfabetização.  As mandalas originalmente são de origem sagrada, tem um ponto central e ao seu redor apresentam um desenvolvimento simétrico. São utilizadas desde tempos remotos em todos os países do mundo. O psicólogo Carl Jung as utilizou em terapias com o objetivo de alcançar a busca de individualidade nos seres humanos.
Buscamos inspiração na Mandala dos Saberes do MEC{ Pressupostos para Projetos Pedagógicos de Educação Integral REDE DE SABERES MAIS EDUCAÇÃO} que busca  a efetivação da Educação Integral. "Cada um dos anéis da mandala – em constante diálogo – representa um aspecto a ser considerado nesse processo de ensino-aprendizagem, que deve ser fomentado a partir das múltiplas possibilidades de trocas e mediações entre escola e comunidade, visando a formação do estudante na sua multidimensionalidade. A intenção é que ela seja um instrumento e ferramenta de auxílio e de orientação à construção de estratégias pedagógicas para a Educação Integral, permitindo que o educador possa lançar mão de diferentes conexões entre os vários anéis para desenvolver uma educação significativa para seus alunos ."   
  http://educacaointegral.org.br/na-pratica/wp-content/uploads/2017/08/metodologia-complementar_jogo-mandala-dos-saberes.pdf

A nossa Mandala  Alfarte trabalha articulando 4 aros em forma de rede e sensibiliza os professores do 1º.Segmento para um planejamento conjunto com professores de Artes, Sala de Leitura, Educação Física e línguas estrangeiras. O desenvolvimento do processo interdisciplinar ,traz mais significado, estímulos, motivação,  envolvimento e pretende proporcionar um aprendizado mais efetivo onde o despertar da motivação e prazer de aprender será o objetivo principal. As propostas de atividades de ensino dos professores regentes não serão voltadas à reprodução e memorização e sim para a expressividade e os processos criadores.O ALFArte visa ampliar o conceito de ler e escrever para a “alfabetização do olhar”,resignificando o aprendizado com experimentações e produções artísticas, que envolvam múltiplas habilidades.
Nosso foco é a Ler, Escrever e Interpretar e os círculos concêntricos de desenvolvem dessa maneira:

 1- Usando à favor do planejamento, os conhecimentos prévios dos alunos, dando maior significado à aprendizagem.
"Jamais aceitei que a prática educativa devesse ater-se apenas à "Leitura da Palavra", à "leitura do texto" mas também à "leitura do contexto", à leitura do mundo".(Freire,2001-p.30)

 2- Permeando o planejamento  do professor alfabetizador  com a Arte e diversas linguagens, para tornar a aula mais criativa e motivadora, sensibilizando e  abrindo portas que facilitam o aprendizado.
”Muitas vezes quando a gente só lê, isso não fica, mas quando diversificamos e usamos o corpo e a expressão por algum canal, isso cria memórias.”Interação pedagógicas 2018, time de alfabetizadores.

3- Criando maneiras de apresentar as produções desenvolvidas na interdisciplinaridade e descrevendo o processo percorrido, considerando que esse tem bastante significado na construção do conhecimento.

4-Trabalhando as habilidades socioemocionais dos estudantes, através da autoavaliação consciente, proporcionando um aprendizado integral.
“Assim como no aspecto cognitivo, a avaliação de competências socioemocionais é uma etapa essencial do processo educativo para identificar obstáculos, priorizar objetivos e replanejar ações ao longo da trajetória escolar sem cair no achismo” Tatiana Filgueiras, Coordenadora de Avaliação e Desenvolvimento do Instituto Ayrton Senna. 

Piaget e Vigotsky relacionam a cognição com criatividade e afetividade e esse ambiente de uma sala onde o aluno  que pretendemos proporcionar  no nosso Projeto,
"A afetividade, a cognição e a criatividade podem ser vivenciadas a partir da interação, recurso fundamental para estabelecer outros laços sociais e também para poder encontrar significado e atribuir sentido às experiências. Esse é um dos princípios encontrados nos pressupostos teóricos da epistemologia genética, segundo Jean Piaget (1978), como no sociointeracionismo, segundo Vigotsky (2007). As experiências criativas das crianças reeditam na elaboração de materiais, na palavra escrita e falada a dimensão cognitiva e afetiva de suas trajetórias de vida. A forma como a criança percebe e interpreta a sua realidade depende em grande parte pelo que lhe é oportunizado nos momentos de interação, especialmente pelo que medeia a relação entre adulto, criança e objeto de conhecimento. Vigotsky (2007) introduz o princípio da mediação, conceito que agrega a possibilidade de o professor utilizar instrumentos e recursos próprios da cultura da criança para fazer avançar a aprendizagem com criatividade.A apropriação cultural do professor realizada através de visitas a museus, exposições de artes, cinema, concertos e teatro, influencia nos processos criativos e de mediação. Na medida em que traços associados à criatividade, como espontaneidade, curiosidade, independência, iniciativa, forem cultivados e reforçados no meio social onde o individuo se encontra inserido, produções criativas terão mais chances de ocorrer."
REVISTA PRIMUS VITAM Nº 9 – 1 semestre de 2017 – ANAIS – II Congresso Internacional e VII Congresso Nacional de Dificuldades de Ensino e Aprendizagem, Cognição, afetividade e criatividade nos processos de aprendizagem Noeli Reck Maggi1

Através da criação de mecanismos de planejamento conjunto, que partam dos conhecimentos prévios que os alunos  trazem de casa, do mundo e da vida pessoal e chegam carregados de significado para eles , o aprendizado fará sentido, sendo mais assimilado.Temos como proposta o  planejamento colaborativo das  aulas de Artes(plásticas, cênicas, musical) da literatura, da Educação Física entrosando  diferentes linguagens e áreas do conhecimento, interdisciplinarizando  e promovendo o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. É a arte ampliando seus limites. "Ao ultrapassar o conceito da “arte pela arte”, ela cresce e passa a exercer uma grande função social. Tanto sobre seus praticantes, como também sobre todos aqueles que têm a oportunidade de, simplesmente, apreciá-la. Segundo especialistas, esta abordagem valoriza o papel da imaginação, desenvolvendo o pensamento criativo e analítico.” ( http://www.sab.org.br/portal/artes/146-arte-um-caminho-para-a-transformacao)

 O Projeto tem como meta através desses recursos, facilitar a aquisição da leitura, escrita, interpretação e proporcionar uma efetiva educação integral e inclusiva aos alunos de nossas escolas . Pensando em trabalhar a articulação com outras linguagens artísticas, que despertem interesse e integrem o processo de aquisição da leitura, escrita e interpretação, vemos a possibilidadede melhorar o desempenho dos alunos, pois ampliamos atingindo diversas inteligências e maneiras de entender o processo de cognição podem ser acionadas. " O aprendizado não pode ser um mundo paralelo, precisa, sim, despertar na criança o prazer de aprender a ler e a escrever de forma significativa na interface da arte e alfabetização. "Segundo Vygotsky (1991, p. 17). 

“ Aprender é diferente de compreender e provoca mudanças de comportamento quando se faz do aprender ,um prazer. Sem compromisso os alunos não são mais do que observadores e uma vez envolvidos acontecea evolução para a informação ativa. “ Artigo de Revisão - Ano 2014 - Volume 31 - Edição 95 -METACOGNIÇÃO COMO PROCESSO DA APRENDIZAGEM escrito por Bernadétte Beber; Eduardo da Silva; Simoni Urnau Bonfiglio

Paulo Freire também fala da motivação e prazer na carta aos professores- Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra ;“Se estudar, para nós, não fosse quase sempre um fardo, se ler não fosse uma obrigação amarga a cumprir, se, pelo contrário, estudar e ler fossem fontes de alegria e de prazer, de que resulta também o indispensável conhecimento com que nos movemos melhor no mundo, teríamos índices melhor reveladores da qualidade de nossa educação.”

 Acreditamos pois , que se trabalharmos colaborativamente, todas as linguagens da grade escolar dando suporte e caminhos para a alfabetização, tornando-a motivo de interesse transformaremos a dificuldade que possa surgir em novas descobertas, alegria e consequentemente em qualidade de educação. Vemos o trabalho interdisciplinar com as linguagens artísticas , como portas e janelas que se abrem e acessam o conhecimento de uma maneira lúdica e criativa em nosso aluno. 

As situações de aprendizagem demandam diversas estratégias ,mobilizam sistemas cognitivos que implicam em mudanças de comportamento. A aprendizagem se torna duradoura quando existe uma alta dose de motivação, isto é, para aprender precisa-se de um motivo. O aprendiz não é um simples receptor de informação, mas agente vivo no processo de construção do conhecimento e o mediador o facilitador do processo. Através da inclusão de outros professores de diversas linguagens artísticas como; plástica, cênica, música,corporeidade, literatura e jogos, no planejamento das situações de aprendizagem, estamos possibilitando o desenvolvimento das potencialidades e reconhecimento das dificuldades do aprendiz, ultrapassando limites e obstáculos. (Texto inspirado  no artigo -Metacognição como processo de alfabetização, Beber, Bonfiglio)

 No projeto ALFArte, estamos pensando na alfabetização como a leitura e escrita de um mundo de sentidos, possibilitando a construção real do conhecimento com significado. Planejar a partir do currículo oculto do aluno, dá compreensão e o envolvimento das situações de aprendizagem em diversas linguagens como artes plásticas, arte musical, artes cênicas, literatura, gamificação e corporeidade abre portas para que o conhecimento seja conquistado por diversas inteligência que temos e não sabemos
Paulo Freire dizia “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”

                                                         Janete Martins Bloise - artista plástica-professora de Artes Visuais e arteterapeuta. Coordenadora do projeto ALFArte na 1a. CRE. 

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