segunda-feira, 18 de junho de 2018

Objetivos do ALFArte


Objetivo Geral



Repensar o agir em sala de aula suscitando a realização de novas descobertas a cerca de um planejamento que tenha a metacognição, a arte, o diálogo entre os componentes curriculares, a pesquisa ação e o desenvolvimento das competências socioemocionais como princípios norteadores de novas práticas na escola.
Proporcionar uma constante dinâmica de  Projetos Coletivos, desenvolvendo uma Aprendizagem Cooperativa entre diversas disciplinas, visando a Educação Integral do aluno. [1]


Objetivos Específicos:      


 -Sensibilizar e afetar através da arte motivando o corpo docente e discente.

     - Ampliar  o conhecimento sobre os aspectos da metacognição, onde o professor pensa sobre o seu   fazer.

     - Articular atividades envolvendo diferentes áreas de modo que o aluno tenha participação ativa na   construção de seu conhecimento.

     - Planejar coletivamente para que o avanço na aprendizagem seja de todos.

     - Contemplar  as demandas e interesses dos alunos com  necessidades especiais: talentos,   habilidades físicas,  sensoriais, intelectuais e sociais.

     -Proporcionar momentos de fala espontânea dos alunos que favoreçam o desenvolvimentos de suas   habilidades socioemocionais.
P   


[ 1] - http://educacaointegral.org.br/conceito/

ALFABETIZAÇÃO - a criança como sujeito do ato educativo.


                                     ALFABETIZAÇÃO
                                                   


 A prática de alfabetização precisa  de qualidade formal e política.




A linguagem não é algo que possa ser aprisionado e controlado. Ela está em constante transformação. Neste sentido é necessário repensar a linguagem escrita na educação infantil, onde se deve assegurar a prática de atividades, contemporizadas no planejamento diário do fazer na sala de aula. A criança precisa estar familiarizada com as diferentes estruturas do texto escrito e dessa forma ser inserida no fantástico mundo do letramento.
Não devemos jamais esquecer o significado que as palavras devem ter para as crianças. Isso facilitará sua inserção no mundo da escrita, pois a palavra fará parte do contexto vivido por cada criança e também do coletivo daquele espaço de desenvolvimento, possibilitando assim o desafio a voos mais altos.
É importante que a criança passe a ser vista como sujeito do ato educativo. Deve-se, portanto valorizar o sucesso de cada nova descoberta realizada por elas.  Devemos estar sempre atentos às novas descobertas e trazê-las para o coletivo, como forma de socializarmos o saber que deve ser de todos. Isto, com certeza, estará colaborando para o prazer de descobrir o mundo.
Quando o educador possibilita que seus alunos “filosofem” a respeitos de questões surgidas na roda de conversa, viabiliza-se assim a interação do professor com o aluno, onde os dois constroem conhecimento. O professor desafia o aluno, respeitando seu desenvolvimento (estrutura), levando em conta seus interesses, experiências, meio em que vive etc.
Por outro lado, o aluno age sobre o objeto de conhecimento. “É a ação que dá significado, é na interação do sujeito com o meio que este se desenvolve e aprende. A filosofia surge a partir de vivências e do diálogo filosófico” (Piaget).
Devemos estar abertos e atentos às indagações das próprias crianças e não àquelas que nós, adultos, supomos que seriam suas indagações. Devemos privilegiar o processo das crianças em suas questões e não uma resposta final a uma determinada pergunta. O professor deverá então, se apropriar desta discussão e iniciar um processo coletivo, de produção textual, onde ele passará a ser o escriba da fala dos alunos. Isto sim é dar significado importante ao ato de escrever, mostrando a função social da escrita e leitura.
Se quisermos ensinar uma pessoa a ler, temos que colocá-la para ler; se quisermos ensinar uma pessoa a escrever, temos de colocá-la para escrever.

Professora Sandra Costa+



domingo, 17 de junho de 2018

Ginásio Carioca Rivadávia Corrêa


O professor Jean Bodin do Ginásio Carioca Rivadávia Corrêa apresenta uma aula espetáculo, numa formação de professores na Escola Paulo Freire e mostra como uma aula de artes cênicas dialoga com as competências socioemocionais, e desenvolve o discurso visual, articulando imagens num contexto de narrativas.
Jean escreve coletivamente o PROJETO pesquisa-ação ALFArte da 1a.CRE e a escola em que trabalha é uma das escolas piloto desse projeto.


quarta-feira, 13 de junho de 2018

Regio Emilia, educação em forma de Arte

Reportagem do boletim Arte na Escola 2015
http://artenaescola.org.br/boletim/materia.php?id=75983

"Reggio Emilia, no norte da Itália, não faz sucesso por seus prédios históricos, o suntuoso teatro municipal, ou pelos inúmeros festivais de música. Por ali, o maior interesse está nos inúmeros desenhos coloridos que decoram lojas, restaurantes, bares e ruas da cidade. A vasta coleção não é assinada por nenhum artista renomado, mas pelos alunos da rede de ensino infantil Reggio Children, criada há mais de 50 anos pelo professor Loris Malaguzzi e pela própria comunidade para oferecer um ensino focado no desenvolvimento intelectual, moral, social e emocional das crianças por meio da representação simbólica. 
A abordagem reggiana, considerada um dos melhores modelos pedagógicos do mundo, nasceu de uma mistura de várias teorias educacionais, como Piaget, Montessori, Dewey e Vigotsky com a visão bem peculiar de Malaguzzi de que a criança possui múltiplas linguagens e deve usar todas no processo de aprendizagem. Conhecido como “As Cem Linguagens da Criança”, o modelo utiliza a arte como principal veículo de formação do conhecimento. “Em Reggio Emilia não se aprende da forma tradicional: eu digo isso e você faz aquilo. Aqui a aprendizagem é a construção de significados feita em conjunto”, conta a educadora italiana Paola Struzzi, pedagogista das creches e escolas de educação infantil de Reggio Emilia, que esteve no Brasil em agosto para uma formação de professores.
Nas 21 escolas e 13 creches que integram a rede Reggio Emilia, crianças de zero a 6 anos são constantemente estimuladas a tomarem decisões com o claro objetivo de desenvolver todas as suas potencialidades. Para isso, as salas de aulas foram transformadas em amplos ateliês, com a oferta de vasta gama de materiais de trabalho. Uma professora e uma atelierista trabalham em conjunto, incentivando a reflexão e a experimentação. “Gostamos de fugir da folha branca para instigar as crianças à pesquisa, oferecendo diferentes suportes como papel ondulado, uma folha transparente ou preta, o plástico, a parede”, explica Paola. As atividades são sempre complementadas por narrativas das próprias crianças, que vão criando em conjunto e construindo linhas de raciocínio, relações com o trabalho do colega, novos olhares. “O aprendizado é uma nutrição recíproca, por isso é importante utilizar a transversalidade da linguagem. A narração é uma espécie de imagem mental e não está isolada do desenho no papel ou da palavra escrita. Tudo tem uma relação”, esclarece a educadora. " 




sexta-feira, 8 de junho de 2018

Como Nasceu o Projeto ALFArte

                                                                      ”Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”   Paulo Freire                                                                                                                      


                                                  
                                                  
Este projeto que envolve a Arte e criatividade na Alfabetização, foi criado pela 1a. Coordenadoria da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, a partir da preocupação com os altos índices de analfabetismo que encontramos no Brasil, assumindo assim a responsabilidade e o compromisso de melhorar esse quadro, conforme indica a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova “A educação é uma responsabilidade compartilhada entre todos nós – governos, escolas, professores, pais e atores privados”. 
Pensamos então em criar estrategias para avançarmos nesse sentido e  nasce um projeto escrito por professores de Artes, Núcleos de Artes e professores de Alfabetização, focado na educação integral dos nossos alunos, articulando as linguagens artísticas que humanizam, sensibilizam, despertam a criatividade e propiciam maior prazer no aprendizado.
A proposta da 1a. CRE é  inovadora e sustentável, porque mantem a estrutura  que existe nas nossas escolas e  sensibiliza na hora de planejar , buscando o desenvolvimento da dinâmica de Projetos Coletivos e Criativos entre todas as disciplinas, proporcionando a aprendizagem cooperativa e a educação integral do aluno.
 Criamos uma mandala com a proposta pedagógica de articular as disciplinas,  onde os professores podem planejar juntos e com foco total  na alfabetização.  As mandalas originalmente são de origem sagrada, tem um ponto central e ao seu redor apresentam um desenvolvimento simétrico. São utilizadas desde tempos remotos em todos os países do mundo. O psicólogo Carl Jung as utilizou em terapias com o objetivo de alcançar a busca de individualidade nos seres humanos.
Buscamos inspiração na Mandala dos Saberes do MEC{ Pressupostos para Projetos Pedagógicos de Educação Integral REDE DE SABERES MAIS EDUCAÇÃO} que busca  a efetivação da Educação Integral. "Cada um dos anéis da mandala – em constante diálogo – representa um aspecto a ser considerado nesse processo de ensino-aprendizagem, que deve ser fomentado a partir das múltiplas possibilidades de trocas e mediações entre escola e comunidade, visando a formação do estudante na sua multidimensionalidade. A intenção é que ela seja um instrumento e ferramenta de auxílio e de orientação à construção de estratégias pedagógicas para a Educação Integral, permitindo que o educador possa lançar mão de diferentes conexões entre os vários anéis para desenvolver uma educação significativa para seus alunos ."   
  http://educacaointegral.org.br/na-pratica/wp-content/uploads/2017/08/metodologia-complementar_jogo-mandala-dos-saberes.pdf

A nossa Mandala  Alfarte trabalha articulando 4 aros em forma de rede e sensibiliza os professores do 1º.Segmento para um planejamento conjunto com professores de Artes, Sala de Leitura, Educação Física e línguas estrangeiras. O desenvolvimento do processo interdisciplinar ,traz mais significado, estímulos, motivação,  envolvimento e pretende proporcionar um aprendizado mais efetivo onde o despertar da motivação e prazer de aprender será o objetivo principal. As propostas de atividades de ensino dos professores regentes não serão voltadas à reprodução e memorização e sim para a expressividade e os processos criadores.O ALFArte visa ampliar o conceito de ler e escrever para a “alfabetização do olhar”,resignificando o aprendizado com experimentações e produções artísticas, que envolvam múltiplas habilidades.
Nosso foco é a Ler, Escrever e Interpretar e os círculos concêntricos de desenvolvem dessa maneira:

 1- Usando à favor do planejamento, os conhecimentos prévios dos alunos, dando maior significado à aprendizagem.
"Jamais aceitei que a prática educativa devesse ater-se apenas à "Leitura da Palavra", à "leitura do texto" mas também à "leitura do contexto", à leitura do mundo".(Freire,2001-p.30)

 2- Permeando o planejamento  do professor alfabetizador  com a Arte e diversas linguagens, para tornar a aula mais criativa e motivadora, sensibilizando e  abrindo portas que facilitam o aprendizado.
”Muitas vezes quando a gente só lê, isso não fica, mas quando diversificamos e usamos o corpo e a expressão por algum canal, isso cria memórias.”Interação pedagógicas 2018, time de alfabetizadores.

3- Criando maneiras de apresentar as produções desenvolvidas na interdisciplinaridade e descrevendo o processo percorrido, considerando que esse tem bastante significado na construção do conhecimento.

4-Trabalhando as habilidades socioemocionais dos estudantes, através da autoavaliação consciente, proporcionando um aprendizado integral.
“Assim como no aspecto cognitivo, a avaliação de competências socioemocionais é uma etapa essencial do processo educativo para identificar obstáculos, priorizar objetivos e replanejar ações ao longo da trajetória escolar sem cair no achismo” Tatiana Filgueiras, Coordenadora de Avaliação e Desenvolvimento do Instituto Ayrton Senna. 

Piaget e Vigotsky relacionam a cognição com criatividade e afetividade e esse ambiente de uma sala onde o aluno  que pretendemos proporcionar  no nosso Projeto,
"A afetividade, a cognição e a criatividade podem ser vivenciadas a partir da interação, recurso fundamental para estabelecer outros laços sociais e também para poder encontrar significado e atribuir sentido às experiências. Esse é um dos princípios encontrados nos pressupostos teóricos da epistemologia genética, segundo Jean Piaget (1978), como no sociointeracionismo, segundo Vigotsky (2007). As experiências criativas das crianças reeditam na elaboração de materiais, na palavra escrita e falada a dimensão cognitiva e afetiva de suas trajetórias de vida. A forma como a criança percebe e interpreta a sua realidade depende em grande parte pelo que lhe é oportunizado nos momentos de interação, especialmente pelo que medeia a relação entre adulto, criança e objeto de conhecimento. Vigotsky (2007) introduz o princípio da mediação, conceito que agrega a possibilidade de o professor utilizar instrumentos e recursos próprios da cultura da criança para fazer avançar a aprendizagem com criatividade.A apropriação cultural do professor realizada através de visitas a museus, exposições de artes, cinema, concertos e teatro, influencia nos processos criativos e de mediação. Na medida em que traços associados à criatividade, como espontaneidade, curiosidade, independência, iniciativa, forem cultivados e reforçados no meio social onde o individuo se encontra inserido, produções criativas terão mais chances de ocorrer."
REVISTA PRIMUS VITAM Nº 9 – 1 semestre de 2017 – ANAIS – II Congresso Internacional e VII Congresso Nacional de Dificuldades de Ensino e Aprendizagem, Cognição, afetividade e criatividade nos processos de aprendizagem Noeli Reck Maggi1

Através da criação de mecanismos de planejamento conjunto, que partam dos conhecimentos prévios que os alunos  trazem de casa, do mundo e da vida pessoal e chegam carregados de significado para eles , o aprendizado fará sentido, sendo mais assimilado.Temos como proposta o  planejamento colaborativo das  aulas de Artes(plásticas, cênicas, musical) da literatura, da Educação Física entrosando  diferentes linguagens e áreas do conhecimento, interdisciplinarizando  e promovendo o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. É a arte ampliando seus limites. "Ao ultrapassar o conceito da “arte pela arte”, ela cresce e passa a exercer uma grande função social. Tanto sobre seus praticantes, como também sobre todos aqueles que têm a oportunidade de, simplesmente, apreciá-la. Segundo especialistas, esta abordagem valoriza o papel da imaginação, desenvolvendo o pensamento criativo e analítico.” ( http://www.sab.org.br/portal/artes/146-arte-um-caminho-para-a-transformacao)

 O Projeto tem como meta através desses recursos, facilitar a aquisição da leitura, escrita, interpretação e proporcionar uma efetiva educação integral e inclusiva aos alunos de nossas escolas . Pensando em trabalhar a articulação com outras linguagens artísticas, que despertem interesse e integrem o processo de aquisição da leitura, escrita e interpretação, vemos a possibilidadede melhorar o desempenho dos alunos, pois ampliamos atingindo diversas inteligências e maneiras de entender o processo de cognição podem ser acionadas. " O aprendizado não pode ser um mundo paralelo, precisa, sim, despertar na criança o prazer de aprender a ler e a escrever de forma significativa na interface da arte e alfabetização. "Segundo Vygotsky (1991, p. 17). 

“ Aprender é diferente de compreender e provoca mudanças de comportamento quando se faz do aprender ,um prazer. Sem compromisso os alunos não são mais do que observadores e uma vez envolvidos acontecea evolução para a informação ativa. “ Artigo de Revisão - Ano 2014 - Volume 31 - Edição 95 -METACOGNIÇÃO COMO PROCESSO DA APRENDIZAGEM escrito por Bernadétte Beber; Eduardo da Silva; Simoni Urnau Bonfiglio

Paulo Freire também fala da motivação e prazer na carta aos professores- Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra ;“Se estudar, para nós, não fosse quase sempre um fardo, se ler não fosse uma obrigação amarga a cumprir, se, pelo contrário, estudar e ler fossem fontes de alegria e de prazer, de que resulta também o indispensável conhecimento com que nos movemos melhor no mundo, teríamos índices melhor reveladores da qualidade de nossa educação.”

 Acreditamos pois , que se trabalharmos colaborativamente, todas as linguagens da grade escolar dando suporte e caminhos para a alfabetização, tornando-a motivo de interesse transformaremos a dificuldade que possa surgir em novas descobertas, alegria e consequentemente em qualidade de educação. Vemos o trabalho interdisciplinar com as linguagens artísticas , como portas e janelas que se abrem e acessam o conhecimento de uma maneira lúdica e criativa em nosso aluno. 

As situações de aprendizagem demandam diversas estratégias ,mobilizam sistemas cognitivos que implicam em mudanças de comportamento. A aprendizagem se torna duradoura quando existe uma alta dose de motivação, isto é, para aprender precisa-se de um motivo. O aprendiz não é um simples receptor de informação, mas agente vivo no processo de construção do conhecimento e o mediador o facilitador do processo. Através da inclusão de outros professores de diversas linguagens artísticas como; plástica, cênica, música,corporeidade, literatura e jogos, no planejamento das situações de aprendizagem, estamos possibilitando o desenvolvimento das potencialidades e reconhecimento das dificuldades do aprendiz, ultrapassando limites e obstáculos. (Texto inspirado  no artigo -Metacognição como processo de alfabetização, Beber, Bonfiglio)

 No projeto ALFArte, estamos pensando na alfabetização como a leitura e escrita de um mundo de sentidos, possibilitando a construção real do conhecimento com significado. Planejar a partir do currículo oculto do aluno, dá compreensão e o envolvimento das situações de aprendizagem em diversas linguagens como artes plásticas, arte musical, artes cênicas, literatura, gamificação e corporeidade abre portas para que o conhecimento seja conquistado por diversas inteligência que temos e não sabemos
Paulo Freire dizia “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”

                                                         Janete Martins Bloise - artista plástica-professora de Artes Visuais e arteterapeuta. Coordenadora do projeto ALFArte na 1a. CRE. 

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Alfabetização no Jogo da Arte


1 NO JOGO DA ARTE


Lindomar da Silva Araujo[1]


Este artigo apresenta um estudo reflexivo e bibliográfico acerca da alfabetização e suas perspectivas pedagógicas em diálogo com a arte-educação, mais especificamente com o ensino do Teatro, pela prática dos jogos de improvisação teatral. Sua relevância encontra-se no cenário atual da educacional formal, que aponta a necessidade de liquidar com o déficit de aprendizagem, inclusive no nível da alfabetização. O problema de defazagem escolar se arrasta por décadas e com as constantes crises sociais e políticas, resultantes da globalização, vem se agravando. É perceptível os esforços dos governantes e da sociedade civil em vencer os constantes obstáculos, que se estabelecem frente aos processos de alfabetização.
Entendemos a lógica da alfabetização como capacitação para decifrar os códigos das palavras (grafemas/fonema), suas articulações e a construção de conceitos, considerando nesse processo os currículos ocultos dos sujeitos. Assim, uma dinâmica de aprendizagem que percorre as concepções de “alfabetização e letramento”. Nesse perspectiva, identifica-se frequentemente a ausência do letramento em crianças e jovens, quando se verifica os índices oficiais de avaliação escolar.
A escola pública é um lugar para todos, um território democrático, que nos apresenta uma diversidade de práticas educativas, formando uma teia de tendências e métodos pedagógicos localizada nas atividades nucleares, ou melhor, no currículo. Essa trama multiforme intensifica os desafios que a alfabetização enfrenta ao longo de décadas, mesmo apresentando oscilações positivas[2][3]. Os primeiros anos do ensino fundamental tende a repercutir nos níveis de sucesso escolar em fases posteriores. Isto, porque alfabetização é uma etapa para sedimentar bases e inserir o indivíduo na cultura escrita, no mundo letrado. Se desenvolve, assim, uma apropriação de atitudes, valores e instrumentos da coletividade, que possibilita o sujeito construir e significar conhecimentos de forma complexa.
Nessa perspectiva, refletimos a articulação de alfabetização pelo ensino da Arte, mais especificamente pela pedagogia do Teatro, intervindo na fissura que se forma na polarização de tendências pedagógicas e práticas metodológicas existentes nas práxis de professores e professoras que atuam neste segmento escolar. Apontamos, primeiro, algumas especificidades do jogo de improvisação teatral e, em seguida, algumas prospecções relativas ao trabalho integrado entre alfabetização e jogo teatral.

2 improvisação e jogo teatral

A espontaneidade é a base da improvisação teatral, que permite aos sujeitos adentrarem o território do faz-de-conta, da possibilidade de mundos, que só a imaginação pode guiar. Pertence aos limites do espontâneo gerar a liberdade pessoal, que viabiliza organicamente a exploração da realidade, provocando momentos de descobertas e de expressões criativas.
O jogo teatral, segundo Koudela (2004, p. 44), objetiva deslocar o sujeito do jogo dramático, um faz-de-conta de caráter subjetivo, para a realidade objetiva da cena teatral, pela dinâmica que “pode ser comparada com a transformação do jogo simbólico (subjetivo) no jogo de regras (socializado)”. Um mecanismo de simulação coletiva de mundos, com a possibilidade do deslocamento tempo-espaço na realidade hipotética.
A ludicidade do jogo é formalizada na medida em que se estabelece regras comuns a todos, envolvendo soluções de problemas, que provoca a alternativas a serem perseguidas. Assim, o jogo teatral, ao ser instaurado, com regras claras e problemas bem definidos, possibilita desenvolver nos sujeitos os sentidos de concentração, imaginação e criatividade.
A não imposição de modelos ou critérios de julgamento propicia aos jogadores a liberdade para se expor e agir em cena. Na perspectiva de Spolin (2008, p. 25), “o jogo teatral passa necessariamente pelo estabelecimento do acordo de grupo, por meio de regras livremente consentidas entre os parceiros. O jogo teatral é um jogo de construção com linguagem artística”. Essa liberdade de vivenciar o presente, acionada pela dinâmica do jogo, deve ser preservada para manter a energia criativa que, consequentemente, se instaura no desenvolvimento da improvisação teatral.
Outro parâmetro essencial ao jogo é afastar o julgamento arbitrário, para evitar a imobilização diante dos critérios de aprovação e desaprovação, inclusive, qualquer medida que apresente caráter autoritário. De acordo com Spolin (2001, p. 6), desde que nascemos vivenciamos a qualificação entre o bom e o mau e “nos tornamos tão dependentes da tênue base de julgamento de aprovação/desaprovação que ficamos criativamente paralisados”.
 O jogo de improvisação teatral só pode ocorrer na coletividade, assim como o próprio teatro é uma arte eminentemente coletiva. Exige, por isso, certo grau de relacionamento do grupo, baseado em acordos comuns e na liberdade de expressão. Para Spolin (2001, p. 9), “a participação e o acordo de grupo eliminam todas as tensões e exaustões da competição e abrem caminho para a harmonia”. Nessa direção, o educador deve participar como um estimulador à participação de todos dentro de suas capacidades individuais e pessoais.
Todos os envolvidos no jogo teatral precisam compreender a importância do trajeto percorrido até o resultado do problema ou conflito teatral, pois nesse percurso são acessados códigos e elementos da linguagem cênica. Assim, além de afastar as tensões sobre processos espontâneos criativos, direciona o foco para elementos constitutivos da linguagem teatral e permite progredir a produções artísticas.
  Um elemento que torna o jogo teatral diferente do jogo dramático, é a plateia ou público. No jogo dramático (Slade, 1978), se dispensa a audiência, pois trabalha a dimensão pessoal do indivíduo, explorando o espaço e assumindo a responsabilidade de representar um papel, que pode expressar pessoas ou coisas. Diferentemente, o jogo teatral (Spolin, 2001), se instaura com o uso da triangulação teatral: ator-texto/ação-público. Nas improvisações, ao se posicionar como público e apreciar o processo de criação dos colegas, o sujeito nesta dimensão percebe a si mesmo no outro e se solidariza com as investidas criativas, que por vezes desestabiliza o ato de improvisar.
Com a possibilidade de imaginar mundos, personagens e acontecimentos específicos, ou melhor, simular realidades, o jogo teatral proporciona vivência de experiências que podem ser transpostas à vida cotidiana. Esta particularidade do teatro amplia a habilidade da pessoa de se envolver com o seu próprio mundo, tornando-se mais crítico e reflexivo. Nesse sentido, desenvolve caminhos para a autonomia e a conquista da cidadania.
Um elemento do jogo teatral, que não se pode ignorar é a “fisicalização”, cujo objetivo é comunicar alguma coisa à audiência (plateia) pela expressão física. Uma forma de levar o indivíduo a encontrar caminhos para acessar as suas memórias emotivas, de forma prática e lúdica. A fiscalização desencadeia um alerta sobre o organismo (psicomotor), estimula a imaginação e desenvolve um processo individual de comunicação do ator com a plateia.
Os jogos teatrais se desenvolvem com algumas estratégias que lhe são peculiares, tais como a resolução de problemas e o ponto de concentração ou foco. A primeira estratégia, referencia esta metodologia como tendência construtivista, por permitir ao sujeito diferentes possibilidades de elaboração do saber a partir da própria perspectiva. A segunda, trata dos mecanismos de concentração, que visam impedir a dispersão no momento do jogo.
Durante o jogo teatral é preciso que a atenção fique direcionada ao problema a ser resolvido e não se disperse, mantendo-se o ponto de concentração. Assim, esses dois elementos estão sempre atrelados, objetivando a progressividade do jogo. De acordo com Spolin (2001, p. 20), o ponto de concentração oportuniza apontar para um único ponto no problema de atuação, desenvolvendo assim a capacidade de resolver problemas e de se relacionar com os outros.
Nos exercícios de jogos teatrais existe a possibilidade de especificar, ainda mais, a concentração do atuante, quando se estabelece os elementos “Onde” (lugar), “Quem” (personagem) e “O que” (ação). Ao se identificar e propor esses parâmetros, a concentração e a capacidade de resolução do problema se amplificam, tornando o jogo mais dinâmico e potente.

3 O JOGO TEATRAL NA ALFABETIZAÇÃO

Para além da condição de saber ler e escrever, o letramento consiste na capacidade de exercitar as práticas de leitura e escrita existentes no meio social, inclusive, considerando a cultura da oralidade. Nessa perspectiva, a prática do jogo teatral possibilita acessar as mais variadas vivências e experimentar outras maneiras de agir e interagir na sociedade.
Um aspecto relevante, no ato de alfabetizar pelos jogos teatrais, é a lógica da comunicação sendo articulada na estrutura do jogo. A todo momento, o jogador é mergulhado em tomadas de decisões, tanto em relação às informações manipuladas no drama da cena quanto à comunicação referente ao diálogo, fator essencial à ação teatral.
O teatro é uma linguagem que possibilita a simulação de mundos ainda impensados e narrativas híbridas e polissêmicas, que podem facilitar o processo de alfabetização. Esta contribuição do teatro é alcançada quando se exige ao estudante imaginar e construir realidades, da mesma forma que no processo de alfabetização utiliza-se mecanismos de comparação, analogia e estruturas metafóricas.
Ao entender a escrita como um sistema simbólico de representação da realidade, podemos colocar a linguagem teatral como importante meio de acesso aos códigos dessa escrita. Em razão do teatro apresentar mecanismos concretos de representação e, ainda, ser capaz de metaforizar realidades. Assim, o jogo teatral não apenas sensibiliza as crianças ao mundo letrado, como também promove a aprendizagem pela concretude de elementos que são essenciais à alfabetização.
O ensino do Teatro na escola se coloca para a alfabetização estética dos estudantes, de forma que eles se apropriem, dentro do possível, dos seus códigos estético-artísticos e façam novas e diferentes leituras de mundos. Assim, o teatro-educação carrega em sua essência perspectivas educativas, que se comparam ao processo de alfabetização e letramento, principalmente quando aponta à construção de narrativas.
O processo de alfabetização escolar exige do professor um amplo trabalho de pesquisa e planejamento, que deve considerar os sujeitos, as suas realidades e vivências. É nesse momento, que acreditamos numa possível parceria entre professores de Arte e de Educação Infantil, para encaminhar ações que potencializem a aprendizagem dos estudantes, acessando abordagens metodológicas e perspectivas epistemológicas que redimensionem o ato de alfabetizar.

6 Referências
KOUDELA, Ingrid Dormien, Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 2004.
SLADE, Peter. O jogo dramático infantil. São Paulo: Summus, 1978.
SPOLIN, Viola. Jogos teatrais para a sala de aula: um manual para o professor. São Paulo: Perspectiva, 2008.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 2001.

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização; Arte; Jogo teatral; Ensino do Teatro.



[1] Professor de Artes Cênicas na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Mestre em Ensino das Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.
[2] Ver detalhes em pesquisa do IBGE. Disponível em: https://brasilemsintese.ibge.gov.br/educacao.html Acessado em: 30 Mai 2018.